Conto

Pedaço de Pão

Parte I

O seu olhar era vago, parado e totalmente sem expressão. Os braços caídos ao lado do corpo, postura curvada, como se em seus ombros houvesse sacos de areia. Estava sentado na beira do cais. A sua frente à imensidão do mar em uma tonalidade azul escuro que aumentava sua grandeza e ao mesmo tempo, provocava medo. Para ele tudo estava perdido. Não havia salvação de nada.  Muito menos esperança. Nem mesmo a lembrança de seus pais era motivo para reanimá-lo. Como eles se sentiriam? O que pensariam dele? Sua mãe ainda o olharia com amor e carinho, com toda aquela ternura que lhe era peculiar? E sua mulher e os dois filhos? Como eles ficariam? Sempre foi muito admirado por eles, o que restaria? Será que o entenderiam? Ficariam bem? Mas nada que pensasse parecia ter o poder de fazê-lo mudar de ideia.

Ele estava decidido a se jogar no mar. Por fim na sua vida, era só isso que pairava em sua cabeça, porque em seu entendimento, não havia mais nada a fazer. E a sua fé? Na sua educação sempre houve lugar para a espiritualidade. Os santos que admirava por dedicação, amor e abnegação a uma vida totalmente voltada para a religião, naquele momento, também não o ajudavam, não o comoviam e não provocavam a esperança em seu coração e na sua mente.

A “derrubada” aconteceu pela manhã. Levantou cedo, como de costume e foi fazendo a sua rotina. Cortou a barba, tomou banho. Após o café, sentou-se para ver televisão e ler o jornal. Foi ali naquele momento. Só noticias ruins. Mortes, assassinatos, guerra, refugiados, roubos, desfalques, corrupção e a economia de mal a pior. Começou a sentir um aperto no peito, que parecia uma falta de ar, mas não era, e por dentro era como se houvesse uma corrosão que começou a destruir tudo de bom que havia. Estava engasgado, com vontade de chorar, mas sem conseguir. Começou a suar frio e de repente deu um pulo do sofá abriu a porta e saiu de casa a esmo e de olhos parados. Caminhava devagar e suas pernas pesavam.  Depois de algum tempo, enxergou o mar e lentamente foi indo em sua direção e surgiu no seu intelecto aquele pensamento: – Vou atirar-me ao mar! E ao chegar à beira, sentou-se e ficou taciturno.

Ainda estava pensando em como seria a morte. Falecer, expirar, perecer, fenecer, extingui-se, terminar, cessar. Nesse momento percebeu um movimento a suas costas. Mas não chegou a olhar para trás porque alguém se senta ao seu lado e diz: – Eu também gosto de sentar aqui e ficar só olhando!

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