Conto

Pedaço de Pão

Parte II

A tensão no pescoço ainda era forte, pois não sabia há quanto tempo estava ali e ainda sob o efeito do torpor, começou a olhar para o lado para ver quem havia falado.

Era uma menina. Roupas surradas e um pouco sujas. Cabelos claros, desarrumados e sem qualquer tipo de corte. O que usava nos pés era algo que fora um tênis, mas agora eram mais buracos e manchas em cima de uma sola encardida de todos os tipos de sujeira, com a metade de um cadarço em cada um.

E antes que ele pudesse pensar em algo para falar ela virou-se e disse: – Quando estou com fome venho e sento aqui.

Ainda em silencio ele a olhou. Viu dois olhinhos verdes e brilhantes. Algumas sardas no rosto, mãos pequenas e ágeis. Era magra, mas atenta e ligada em tudo a sua volta. Mas o que chamou a atenção dele foi a vivacidade do olhar. Ela não pareceu ter notado a perturbação dele. Deveria ter nove ou dez anos de idade. – Você também esta com fome? Pergunta ela.  E sem esperar resposta disse: – Somos dois! E sorriu. Dentes brancos, alinhados pareciam não ser dela. Ele sem saber o que fazer ou dizer permanecia calado.

Ela ficou seria e falou: – Ok, desta vez posso ajudar.  E coloca rapidamente a mão no bolso e tira um pedaço de pão separa em dois e estende um para ele.

Nesse momento ele percebe o que esta acontecendo. Mecanicamente pega o pedaço de pão oferecido e ela sem olhar para ele diz: – Pode comer, é bem gostoso! Mas já vou avisando que não tenho mais e não sei se hoje, vou conseguir alguma coisa para comer.

Ele começou a ficar envergonhado, sentia o rosto quente e não queria ficar rubro e com aquele sentimento incomodando. Precisava fazer alguma coisa e fez. Começou a comer o pão. Ela sorriu aprovando e não disse nada. O sabor daquele pão era tão gostoso que ele ficou pensando se já tinha comido algo tão aprazível. Pensou: – Preciso falar alguma coisa. Virou-se para ela e falou: – Muito obrigado! Mas a sua voz saiu gutural e como não fosse sua. Ele ficou assustado com aquela rouquidão e ela sem nenhuma reação replicou: – De nada! Em seguida levantou-se com um leve sorriso e aquele olhar enérgico: – Até outra hora! E saiu rapidamente da mesma forma que chegara.

Atônito com o que aconteceu, não teve tempo de perguntar o nome, o que fazia e onde morava.

Voltou para casa, abraçou sua mulher demoradamente e ao olhar para seus filhos seus olhos encheram-se de lagrimas, ajoelhou-se e abraçou-os. Eles nada entenderam.

Os trabalhadores do embarcadouro comentam que seguidamente um homem pergunta e procura por uma menina na faixa de dez anos, magrinha, cabelos claros e olhos verdes e espertos, que não sabe o nome, mas diz a todos que tem muita esperança de reencontrá-la.

Escrito por